A megaoperação policial realizada nesta semana nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, já é considerada a mais letal da história do Brasil, segundo a Defensoria Pública do Estado. O órgão confirmou 132 mortos, número que ultrapassa o do Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, em São Paulo, quando 111 presos morreram durante intervenção policial, conforme registros do Ministério Público.
O governo do Rio informou, até a manhã desta quarta-feira (29), que 64 pessoas morreram, sendo 60 suspeitos e quatro policiais. No entanto, moradores relataram ter encontrado dezenas de corpos em áreas de mata próximas às comunidades e os levaram até a Praça São Lucas, no Complexo da Penha, para reconhecimento.
A Polícia Militar comunicou que será necessária perícia para determinar se essas vítimas têm relação com os confrontos da operação, o que pode elevar o número final.
Ação de grande porte
Batizada de Operação Contenção, a ofensiva mobilizou cerca de 2,5 mil agentes das forças de segurança, com o objetivo de cumprir mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho (CV) e apreender armas e drogas.
Durante os confrontos, criminosos reagiram com drones e explosivos, segundo a Secretaria de Segurança Pública. O governo estadual informou que 81 pessoas foram presas, 93 fuzis e 200 quilos de maconha foram apreendidos.
O governador Cláudio Castro (PL) classificou a ação como “a maior operação da história das forças de segurança do Rio” e afirmou que o estado “está sozinho no combate ao crime organizado”.
Corpos levados à praça e perícia em andamento
Imagens que circularam nas redes sociais mostram corpos dispostos lado a lado na Praça São Lucas. De acordo com relatos de moradores e de organizações que acompanham a situação, as vítimas foram retiradas de uma área conhecida como Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde ocorreram os confrontos mais intensos.
O ativista Raull Santiago, que acompanhou o recolhimento, classificou a cena como “brutal e sem precedentes”. Já o secretário da PM, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, afirmou que os cadáveres não fazem parte da contagem oficial divulgada na terça-feira (28).
Policiais mortos e feridos
Quatro agentes perderam a vida durante a operação: Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho (53ª DP), Rodrigo Velloso Cabral (39ª DP), Cleiton Serafim Gonçalves e Heber Carvalho da Fonseca, ambos do Bope.
O delegado-adjunto da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), Bernardo Leal, foi baleado e permanece internado em estado grave. Outros 15 policiais ficaram feridos.
Comparação com o Carandiru e outras operações
O número de vítimas supera o registrado no Carandiru, em 1992, e também em outras ações de grande letalidade, como a do Jacarezinho (2021, 28 mortos) e a da Vila Cruzeiro (2022, 24 mortos).
Em São Paulo, a operação no presídio do Carandiru terminou com 111 presos mortos, sendo 77 baleados por policiais e 34 por outros detentos, conforme dados do Ministério Público.
Com base nas informações da Defensoria Pública e dos levantamentos em andamento no Rio, a Operação Contenção já se consolida como a mais letal da história recente do país.
Repercussão e próximos passos
Após os confrontos, houve bloqueios e ataques em vias importantes, como a Linha Amarela e a Grajaú-Jacarepaguá. Em resposta, o governo estadual transferiu dez membros da cúpula do Comando Vermelho para Bangu 1, unidade de segurança máxima, e solicitou ao Ministério da Justiça que os presos sejam enviados a presídios federais.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que nenhum pedido de cooperação foi feito pelo governo do Rio. O Palácio Guanabara convocou uma coletiva de imprensa para esta quarta-feira (29), na qual deve atualizar o balanço oficial e anunciar novas medidas de segurança.





