Uma megaoperação policial realizada nesta terça-feira (28) no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, deixou 64 mortos e 81 presos, segundo informações das forças de segurança do estado.
Batizada de Operação Contenção, a ação é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro e teve como objetivo conter a expansão territorial do Comando Vermelho (CV), além de prender lideranças da facção que atuam dentro e fora do estado.
De acordo com a Polícia Civil, foram expedidos 100 mandados de prisão contra integrantes da facção, sendo 30 deles em outros estados, com foco em suspeitos que estariam escondidos no Pará.
Durante as ações, dois suspeitos baleados foram levados sob custódia ao Hospital da Penha. Três moradores foram atingidos por balas perdidas — entre eles, uma mulher que foi ferida de raspão enquanto estava em uma academia no bairro — e foram socorridos ao Hospital Getúlio Vargas. Todos estão fora de perigo.
Um policial do Bope também foi atingido de raspão na perna durante troca de tiros em área de mata. O agente foi levado ao Hospital Central da Corporação, no Estácio, e não corre risco de morte.
Governador Cláudio Castro critica falta de apoio da União
Em entrevista coletiva após a operação, o governador Cláudio Castro (PL) afirmou que tem atuado “sozinho” no combate à criminalidade no estado, alegando falta de apoio do governo federal.
Segundo Castro, pedidos feitos ao governo Lula para o empréstimo de veículos blindados das Forças Armadas foram negados, sob a justificativa de que seria necessária a decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — mecanismo que autoriza o uso das Forças Armadas em ações de segurança pública, sob comando do presidente da República.
“Tivemos pedidos negados três vezes. Para emprestar o blindado, tinha que ter GLO, e o presidente é contra a GLO. Cada dia uma razão para não estar colaborando”, disse Castro.
O governador reforçou que a operação visava enfraquecer o Comando Vermelho, que mantém forte presença em comunidades da capital fluminense e vem tentando expandir o controle territorial para outras regiões.
O que é a GLO
Prevista na Constituição Federal, a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) é um instrumento que autoriza o emprego temporário das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) em situações excepcionais, quando há esgotamento das forças policiais estaduais. Durante o período de vigência, os militares passam a atuar com poder de polícia, sob coordenação direta da Presidência da República.
Ministério da Justiça rebate e diz que governo federal apoia o Rio
Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) afirmou que mantém a Força Nacional no Rio de Janeiro desde outubro de 2023, com atuação garantida até dezembro de 2025, podendo ser renovada.
O governo federal destacou que todos os 11 pedidos de renovação da Força Nacional feitos pelo estado foram atendidos, o que demonstra, segundo a pasta, “total apoio do governo às forças de segurança estaduais e federais que atuam no Rio de Janeiro”.
“As ações coordenadas têm como objetivo fortalecer o combate ao crime organizado, reduzir índices de criminalidade e garantir maior sensação de segurança à população”, diz o comunicado do governo Lula.
A nota acrescenta que o ministério permanece empenhado em assegurar resultados efetivos e preservar a ordem pública no estado.
Divergência sobre uso de blindados
De acordo com o colunista Valdo Cruz (g1), assessores do presidente Lula afirmaram que o governo do Rio não chegou a solicitar formalmente a decretação de uma operação de GLO, o que seria condição necessária para o uso dos blindados das Forças Armadas.
Com isso, o impasse entre os governos estadual e federal se mantém em torno da coordenação das ações de segurança pública no estado, em meio à escalada da violência e à crescente atuação de facções criminosas nas comunidades cariocas.





