“Seja no meu consultório ou nas penitenciárias, não pergunto sobre o que meus pacientes possam ter feito de errado”, explica o médico
A reportagem do Fantástico sobre a solidão e as dificuldades que enfrentam as presas transexuais do País comoveu parte da sociedade ao longo da semana passada. Cartas foram endereçadas principalmente à Suzy, a trans que recebeu um abraço do médico e apresentador da matéria, Dráuzio Varella, depois de revelar que há 8 anos não recebia visitas.
No domingo (8), veio à tona o motivo pelo qual Suzy não recebe nenhum familiar ou amigo na cadeia. Ela foi condenada com trânsito em julgado em 2014 por um crime cometido em 2010: estupro seguido do assassinato de um vizinho, um menino de 9 anos.
A repercussão fez Dráuzio emitir uma nota pública, em que mantém os princípios humanitários de seu trabalho.
“Há mais de 30 anos, frequento presídios, onde trato da saúde de detentos e detentas. Em todos os lugares em que pratico a Medicina, seja no meu consultório ou nas penitenciárias, não pergunto sobre o que meus pacientes possam ter feito de errado”, afirmou o médico.
“Sigo essa conduta para que meu julgamento pessoal não me impeça de cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico. No meu trabalho na televisão, sigo os mesmos princípios. No caso da reportagem veiculada pelo Fantástico na semana passada, não perguntei nada a respeito dos delitos cometidos pelas entrevistadas. Sou médico, não juiz”, concluiu.
Em setembro de 2018, o Superior Tribunal de Justiça reduziu a pena de Suzy para 30 anos, 10 meses e 20 dias de prisão. Ela está presa desde 2010.
A Justiça entendeu que Suzy matou o garoto “mediante meio cruel, consistente em asfixia, e se valendo de recurso que impossibilitou a defesa da vítima, haja vista tratar-se de criança, com mínima capacidade de resistência”.
Os autos também registraram o depoimento da tia de Suzy, que afirmou que ela fora acusada de “estar abusando de uma criança de três anos” e de tentar “estuprar o sobrinho de cinco anos”, antes mesmo de estuprar e matar o menino de 9.
O caso aconteceu no bairro União de Vila Nova, em São Paulo.