O embate entre frigoríficos brasileiros e o Carrefour ganhou força nesta semana após a decisão de Alexandre Bompard, CEO global da rede, de boicotar carnes provenientes dos países do Mercosul. Em resposta, gigantes como JBS e Masterboi interromperam o fornecimento à rede varejista no Brasil, intensificando a disputa que reflete tensões comerciais e políticas entre o bloco sul-americano e a União Europeia.
Na quinta-feira (21), a JBS, responsável por cerca de 80% das carnes vendidas no Carrefour, anunciou a suspensão imediata do fornecimento. No dia seguinte, a Masterboi também interrompeu a entrega de 250 toneladas de carne.
Impactos no Carrefour Brasil
Apesar das ações, o Carrefour Brasil afirmou que, por ora, não há desabastecimento em suas lojas e destacou estar em diálogo para solucionar a situação. Entretanto, especialistas alertam para o risco de ruptura de estoque, especialmente em relação às carnes in natura, que possuem giro diário.
“A reposição de carnes frescas pode ser impactada em breve, mesmo com compras emergenciais de lotes em distribuidoras”, afirmou Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores.
Motivações do boicote e reação brasileira
O boicote às carnes do Mercosul anunciado pelo CEO do Carrefour global é visto como uma demonstração de apoio ao agronegócio francês, que se opõe ao acordo comercial Mercosul-UE. Agricultores franceses argumentam que os produtores sul-americanos possuem vantagens competitivas desleais, principalmente devido às diferenças nas regulamentações ambientais.
A declaração gerou ampla reação no Brasil. Entidades do setor agropecuário, autoridades como o ministro da Agricultura Carlos Fávaro, e o governador do Mato Grosso Mauro Mendes, defenderam boicotes à rede varejista. No sábado (23), 44 entidades publicaram uma carta aberta condenando a postura do Carrefour, classificando-a como “protecionista” e incoerente com os princípios de livre mercado e sustentabilidade.
Brasil: referência em produção sustentável
As associações destacaram os avanços da pecuária brasileira, que aumentou a produtividade em 172% nos últimos 30 anos, reduzindo a área de pastagem em 16%. Também enfatizaram que a exclusão de produtos do Mercosul poderia causar inflação na Europa e aumentar as emissões de carbono, devido ao transporte de carnes locais menos eficientes.
“Se a carne brasileira não é adequada para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como pode ser considerada para qualquer outro mercado”, declararam os representantes.
O que vem a seguir?
Com o impasse, a relação entre o Carrefour e os frigoríficos brasileiros está no centro de um debate mais amplo sobre comércio internacional e competitividade. Enquanto isso, o consumidor brasileiro pode sentir os efeitos das tensões em breve, com o risco de escassez de carnes nas lojas da rede.





