Um estudo publicado na revista “Science” mostra que o investimento em preservação do meio ambiente, como a redução do desmatamento e do tráfico de animais, pode prevenir o surgimento de novos surtos virais em humanos. Além disso, o gasto financeiro com essas medidas é menor do que o que está sendo pago economicamente e socialmente durante a pandemia da Covid-19.
“Como o financiamento público em resposta à Covid-19 continua subindo, nossa análise sugere que os custos associados a esses esforços preventivos de proteção ao meio ambiente seriam substancialmente inferiores aos gastos econômicos e de mortalidade para responder aos patógenos toda vez que eles surgirem”, dizem os autores no artigo publicado na ultima sexta-feira (24).
De acordo com o levantamento do grupo, o custo para preservar o ambiente no planeta seria de 22 bilhões de dólares, um valor considerado elevado, mas ainda menor do que os 2,6 trilhões de dólares que já foram perdidos no combate à Covid-19. É importante levar em conta que mais de 600 mil pessoas morreram devido à doença, além dos valores financeiros.
Os vírus mais recentes que atingiram o planeta nas últimas décadas, como Sars CoV-2, HIV, Ebola, entre outros, passaram de hospedeiros para os humanos e tiveram uma relação próxima entre as pessoas e os animais silvestres, como morcegos e primatas. Os autores argumentam que a redução do desmatamento é fundamental para evitar este ciclo, já que os locais onde 25% da vegetação original foi perdida tendem a ser focos de transmissões virais.
Os morcegos, prováveis reservatórios do Ebola e também do Sars CoV-2, vão atrás de povoados quando o habitat florestal é perturbado para a construção de estradas, extração de madeira e outras atividades humanas, alerta a pesquisa.
“A relação entre desmatamento e tráfico de animais silvestres e o surgimento de doenças emergentes é muito bem estabelecida. Mesmo assim, ações ambientais estão essencialmente fora da agenda de prevenção de pandemias. A boa notícia é que investir entre 22 e 31 bilhões de dólares por ano em programas para monitorar e reduzir essas atividades pode diminuir substancialmente as chances de algo como a Covid-19 acontecer novamente”, disse Mariana Vale, única brasileira a participar do estudo, professora do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Além da cientista brasileira, assinam também pesquisadores de Harvard, Duke, Princeton, Rice, George Mason, Boston, Illinois, Wisconsin-Madison (EUA) e Duke Kunshan (China), além de organizações sem fins lucrativos, como a Conservation International, o Instituto Earth Innovation, a EcoHealth Alliance, o Safina Center e, ainda, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF do Quênia).
Em junho de 2020, a Amazônia registrou 1.034,4 km² de área sob alerta de desmatamento, recorde para o mês em toda a série história, que começou em 2015. No acumulado do semestre, os alertas indicam devastação em 3.069,57 km² da Amazônia, aumento de 25% em comparação ao primeiro semestre de 2019.
Os dados são do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram atualizados em 10 de julho.
Os alertas até junho de 2020 apontam:
- Sinais de devastação em 3.069,57 km² da Amazônia neste ano
- Aumento de 25% de janeiro a junho, comparado ao mesmo período do ano anterior
- Aumento de 64% no acumulado dos últimos 11 meses, comparado ao período anterior (a um mês do fechamento oficial de desmatamento, alertas apontam tendência de aumento na devastação)
- O número de junho é 10,6% maior do que o registrado no mesmo mês em 2019
- Na comparação com maio, houve aumento de 24,31% em relação ao mesmo mês de 2019, que também havia sido recorde para o período.
Os dados servem de indicação às equipes de fiscalização sobre onde pode estar havendo crime ambiental. Os números não representam a taxa oficial de desmatamento, que é medida por outro sistema, divulgado uma vez ao ano.